domingo, 20 de março de 2011

Uma volta na Lagoa Redonda
Pirambu, SE



Um riacho avermelhado dançando e tocando os pés de diversas dunas. A imagem me faz lembrar também a figura poética que o grande Manoel de Barros soltou ao brincar com um riacho que passava atrás de sua casa. Uma cobra de vidro¹, disse certa vez o poeta de Mato Grosso do Sul. Mas o local onde a natureza mostra suas artimanhas e desperta imaginação de poetas aqui é outro. Lagoa Redonda, litoral norte de Sergipe. Um oásis com a “pequena” vantagem de não ter nenhum grande deserto para atravessar.
E é pertinho de Aracaju. No máximo uma hora de carro. Logo ali depois da entrada para a sede do município de Pirambu. Existe uma placa indicativa alguns quilômetros depois de passar pela cidade na margem direita da SE 204. Já na estrada é possível observar o ecossistema litorâneo de dunas, manguezais e várzeas. Natureza rica e diversa que faz parte da Reserva Biológica Santa Isabel. No acesso ao povoado de Lagoa Redonda, ruas de pedras, pequenas igrejinhas, muitos coqueiros.
O percurso finaliza em frente a um pequeno riacho avermelhado. A paisagem é uma gostosa massagem nas vistas do vivente. E segundo a dona do “Dunas Bar e Restaurante” (pequeno barzinho ao lado do riacho), uma massagem também em qualquer mente aborrecida. “Ontem mesmo chegou um casal que estava brigado. Passaram o dia por aqui e quando foi no final da tarde já tinham feito as pazes”, disse Maria José da Cruz Alves, 40 anos. A poucos metros e também participando da conversa está Nilton Santos, 34, que mora na área e vez em quando ajuda Maria. Nilton está sentado em uma mesinha curtindo o visual e degustando uma cervejinha, o detalhe é que a mesa e as cadeiras estão dentro do riacho. Hidromassagem melhor não existe. “Tudo aqui é bom, não tem como ficar estressado”, falou o morador.

O passeio pode ser a pé pelo riacho. Subir as dunas requer um certo esforço físico e se o sol estiver muito quente é bom levar algum calçado. Protetor solar, então, nesse caso, é indispensável. A vista lá de cima compensa o esforço. O azul do alto mar, o pequeno riacho serpenteando a paisagem, o branco das dunas e o verde da vegetação nativa... é de tirar o fôlego... e ficar na memória para o resto da vida. Se o horário do passeio for ao final da tarde ou de manhã cedinho, nos dias sem muito movimento, é possível ver sagüis e algumas aves nativas.
Na volta, Nilton ainda está lá, com seu jeito manso. “Pegaram caju? Ouuxe.. não?! Então vamo ali. É rapidinho”. No caminho Nilton fala que também acha o lugar lindo, mas muitos visitantes ainda não respeitam o local. Toda segunda, a comunidade recebe sacos de lixo para recolher o que foi deixado. “A Petrobrás [responsável por extração de petróleo, no município] e o Ibama deveriam colocar algumas placas e tonéis em certos locais”, disse Nilton mostrando, depois, qual o cajueiro tinha um caju mais doce.

O rio que fazia uma volta atrás de nossa casa era a imagem de um vidro mole que fazia voltqa atrás de casa Passou um homem depois e disse: Essa volta que o rio faz por trás de sua casa se chama enseada. Não era mais a imagem de uma cobra de vidro que
fazia uma volta atrás de casa. Era uma enseada. Acho que o nome empobreceu a imagem"
- MAnoel de Barros - O Livro das Ignorãças in Uma didática da invenção


Onde fica?
Partindo de Aracaju é mais rápido e mais tranqüilo ir ao município de Pirambu pela nova ponte que liga Aracaju ao município de Barra dos Coqueiros. Depois de atravessar a ponte segue-se pela estrada SE 100 em direção a Pirambu. Pela SE 204 e passando pela entrada da cidade, cerca de 5 km depois chega-se ao acesso de Lagoa Redonda à direita da estrada. Sobe uma pequena ladeira e entra à direita de novo em um pedaço de asfalto (não se iluda é apenas um pedaço – mas a estrada de barro chega a ser melhor do que o asfalto). Seguindo em frente, vai passar pelo povoado até chegar no riacho da Lagoa Redonda.

Por que ir?

Escalar dunas, banho em um riacho morno, apreciar um belo visual e, dependendo da época, ainda comer uns cajuzinhos de quebra.

Quando ir?

Qualquer época do ano. Nos meses mais chuvosos (de abril a julho) o riacho fica maior. Recomendo um horário mais cedo até antes das 9h ou depois das 15h30. Com o sol mais fraco e possibilidade de admirar mais a beleza local.

Quem vai?

Moradores da região, amantes da natureza, caçadores do pôr e do nascer do sol.

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